Parte I - Ela
Ela não tinha jeito para fotos, escolhia o perfil do aplicativo de paquera de acordo com as ocasiões em que as fotos foram tiradas. Foi engraçado quando me contou isso e fez todo sentido do mundo, todas as fotos tinham algo em comum: Ela estava feliz e essa era a coisa mais bonita.
Apesar de apenas pouco mais de um ano mais velha que eu, enxergava aquela pessoa do aplicativo como uma mulher, aquelas fotos que pouco mostravam sua beleza passavam ao mesmo tempo um ar de maturidade, que na vida real, mais tarde eu descobri, ela ainda não havia alcançado.
A conversa surgiu, fluiu. Ela quem puxou assunto, falou da minha tatuagem dos Beatles e eu do seu sorrisão largo (não posso negar que sempre foi o que me chamou mais atenção, não apenas nela. Era meu ponto fraco). E inesperadamente, desafiando todo o meu modo de ser, eu respondi na lata elogiando. A timidez desapareceu naqueles instantes e eu passei a impressão de também ser uma mulher adulta e resolvida, o que eu não era.
Falamos de música (ela fã de Pink Floyd por influência dos pais e eu de Beatles descobertos há poucos anos) de filmes, de séries, de signos, de religião, de esportes, de comida, de gatos, de como a praia estava linda enquanto eu estava trabalhando e como ela queria dividir aquele caldinho de marisco caseiro comigo.
O primeiro 'acho que estou apaixonada por você' veio poucos dias depois em tom de brincadeira numa mensagem de celular, acompanhada de um 'foodeeeooo'. Ela não queria se envolver com ninguém, queria terminar um rolo iniciado justamente pela incapacidade de ficar sozinha. Um rolo de três semanas que me renderam a alcunha de bruxa, já que a menina acreditava que eu tinha sido o motivo do término.
O fim delas estava anunciado, mas o nosso começo insistia em não vir.
Ela ainda morava em outra cidade, o natal se aproximava. Em algum final de semana veio direto de lá para a minha casa, nem viu os pais, nem deu notícias, apenas o desejo de me encontrar. Foi a primeira vez que nos vimos pessoalmente. Saímos, nos perdemos no caminho até a praia (coisa que se repetiria muitas vezes no tempo que passamos juntas, mas cada vez, aumentava o stress porque nos perder, fazia com que atrasássemos e ela tinha algum problema de querer ser britanicamente pontual e não admitir falhas. E eu? Era a falha em pessoa).
Neste dia tomamos nosso primeiro café (cappucino para mim e moccha para ela), comemos pão de queijo num lugar onde não voltamos nunca mais e como não deu certo para matar a fome ainda fomos para o nosso primeiro temaki. Eu parecia ter aberto o apetite dela, já que antes (e depois) ela não era muito de comer.
Primeira volta para casa, primeiro beijo (ela me beijou na bochecha enquanto eu mostrava trivialidades no computador), no segundo, desta vez na boca, eu tremia como se nunca tivesse beijado alguém na vida. Ela só notou depois que eu falei e então me abraçou, me acolheu em seus braços enquanto fazia carinho no meu ombro. Antes de ir embora, me agarrou como que pedindo para ficar.
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