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Sobre homossexualidade e religião ou a conclusão precipitada

Hoje eu estava fazendo uma limpeza online. A microsoft liberou o Windows 10 e eu estava meio que preparando o território para ele, mesmo sem precisar. Então no meio dos documentos eu pude perceber como o país retrocedeu enormemente em pouco mais de dois anos.

Uma das coisas que encontrei nessa 'faxina' online foi uma gravação da apresentação do meu TCC - escrevi uma grande reportagem sobre homossexualidade e religião - e percebi como o panorama da época parecia outro.

Naquela época já tínhamos um tímido Bolsonaro, mas Malafaia e Feliciano eram vozes quase solitárias e não tínhamos a ameaça real do Cunha, o tal todo poderoso da Câmara dos deputados.

No trabalho eu ouvi homossexuais e pais de homossexuais, além de autoridades religiosas. Dos gays, apenas um era ateu e outra não tinha religião definida apesar de se considerar cristã. Tinha depoimentos de homossexuais católicos e também espíritas. E nas conversas com o Padre e o pastor as coisas apesar de difíceis parecia haver uma esperança, um fio de tolerância no fundo de tudo isso.

As minhas considerações finais à época apontavam isso, apesar de agora enxergar que talvez o erro tenha sido meu, em não ter me esforçado mais em procurar homossexuais evangélicos (será que eles simplesmente não existem? ou a igreja já ali os cobria com seu véu de hipocrisia?).

Em dois anos a conjuntura do país mudou completamente. Passamos para uma teocracia disfarçada, reguladores da vida amorosa dos outros, uma obrigatoriedade de seguir cegamente as orientações de pastores que fazem tudo menos seguir o que a Bíblia diz.

A sociedade parecia querer se abrir, tolerar, mas hoje em dia é como se vivêssemos em estado de sítio todo o tempo. Casos de estupro e sequestro estão se tornando rotina, praticados por uma sociedade machista que acha que tem direito sobre o corpo das mulheres, que as diminui, humilha e mata.

Esta mesma sociedade também tornou-se ainda mais racista, após esses mesmos 'representantes de deus' se colocarem a favor da redução da maioridade penal, do 'bandido bom é bandido morto' e do 'atira no negro primeiro, depois pergunta se tem ligação com o crime'.

E uma sociedade onde um casal gay dar as mãos em público é uma afronta, mas pregar ódio é apenas opinião. Uma sociedade que nos expõe e crucifica os diferentes.

Como as coisas mudaram. Como de repente todo o fio de esperança se esvaiu e tudo parece tão difícil. Lembro de uma entrevista da atriz Marieta Severo na Folha de São Paulo, onde ela se abismou pelo fato de que direitos já conquistados podem ser tomados das pessoas. Como podemos retroceder tanto em pleno século XXI.

Se eu estivesse escrevendo aquele texto hoje, com certeza a conclusão seria outra. Hoje não vejo mais esperança no futuro, mas sinto medo do fundamentalismo. Sinto-me impotente diante do cenário nacional e dos monstros no Congresso, da Assembleia, dos gestores, do desconhecido misógino e homofóbico.

Assim como todo o resto da população, principalmente de cidades violentas, como João Pessoa vem se tornando, tenho medo de ser assaltada também, de sofrer um acidente neste trânsito louco e isso não minimiza meus outros medos, apenas potencializa.

A onda fundamentalista saiu dos pequenos lugares e invadiu nossas casas, com nossos pais condenando uma novela por ter um casal de idosas gays. Transformando a vida dos outros num inferno ao tentar impor uma religião forçadamente e tolhendo nossa liberdade em nome de uma moral que sinceramente eu nunca vi, tampouco bons costumes. Talvez eu reescreva algo.

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