Relacionamentos têm se tornado imediatistas e tudo extremamente paradoxal. Não consigo entender, nem me encontrar nesse mundo. As relações são profundas de mais e superficiais ao mesmo tempo. O "eterno enquanto dure" nunca fez tanto sentido e nunca durou tão pouco. As pessoas se descartam como lixo reciclável. As pessoas se reciclam com sentimentos desmontáveis. Mutações de sentimentalidades acontecem e o que era para se transformar em amor vira obsessão... ou no máximo só um tesão exagerado.
As pessoas estão sendo recicladas o tempo todo, 'não serve mais para você, mas serve para mim', até não mais servir. Egoísmo e narcisismo dominam os relacionamentos, tudo são flores enquanto faço só o que me convém e o inferno são os outros. No fim, é tudo um emaranhado de atração e desejo, sentimentos verdadeiros são aprisionados porque estes quando se sentem o maior estrago e sofrem as feridas profundas. No final, todo mundo quer ir para a cama, todos querem entrar nas suas calças, mas nem todos estão dispostos a deixar as pessoas entrarem em seus corações.
E depois de remoer o assunto insistentemente pela incapacidade de engolir, cheguei a uma conclusão, como não poderia deixar de ser, egoísta.
Claro que outras pessoas foram atingidas e se decepcionaram comigo, mas o que está me 'empatando' é o fato de eu ter me decepcionado comigo mesma. Só agora tudo faz sentido e as coisas só vão mudar quando eu conseguir me perdoar... Então, melhor sentar porque a espera vai ser longa.
A coisa mais difícil nisso tudo é que é fácil pedir desculpas para os outros, expor o quanto você está arrependida, e todo aquele blá, blá, blá que mesmo que seja verdadeiro não passa de conversa mole. Menos difícil que pedir perdão é perdoar, a raiva passa e o sentimento bom que você tem pela outra pessoa faz com que o que quer que tenha acontecido seja superado e com o tempo esquecido. Mas o que me preocupa agora é como posso me perdoar, como pedir perdão a mim mesma, como me convencer...
Já usei todos os argumentos possíveis e claro que me perdoarei um dia, mas ainda não consigo conceber que eu decepcionei a mim mesma. Traí alguns princípios, abalei convicções e perdi muito mais do que o que todos sabem. Perdi uma parte de mim nisso tudo...
Quando fui dormir já era quase dia, o sol ameaçava brilhar e não precisava mais de lâmpada para enxergar.
Deitei cansada na cama desarrumada da noite anterior e deixei alguma melodia suave embalar meu sono, procurando boas vibrações para que pelo menos no mundo dos sonhos a vida fosse boa.
Pura ilusão...
Sonho sofrido, suado, corrido
Duas sombras na rua e nenhuma delas era minha, mesmo eu estando ao lado. Não estava apenas invisível, mas também intocável, eu podia sentir tudo, ver tudo e era como se fosse um fantasma, para os outros eu sequer estava ali.
A segunda sombra era de alguém muito parecido comigo, jeito, corpo, pensamento... mas não era eu e ela aproveitou, se fundiu na primeira diversas vezes enquanto caminhava pela rua, até onde se misturariam com a escuridão de um quarto onde os corpos se uniam.
Promessas feitas ao vento como se fosse possível sentir minha presença invisível, tão surreal quanto a extensão do que foi prometido... Faladas para mim que sequer estava realmente ali.
Falas repetidas, cheias de 'se' e de 'depois', 'quem sabe'...
E todo o sentimento que aflora sendo desenterrado lá do fundo de um peito que nem batia mais. O coração começa a acelerar e a necessidade de externalizar isso de alguma forma torna-se incontrolável. Tento me interpor às sombras, luto, como se minha vontade tivesse algum valor.
Desdém...
Então um lixo no meio da rua.. corro e chuto... ao menos peguei uma distância considerável das sombras, era só o que eu precisava, de um pretexto para desaparecer (ainda mais).
Contudo o lixo estava vivo e me senti culpada quando percebi. Era uma gata com dificuldades no parto.
Enquanto dou uma de parteira apenas uma das sombras permanece.
Os gatinhos nascem já caminhando como se tivessem meses de idade..
Uma vez a mãe salva, continuamos a andar, agora só uma sombra no chão. A minha continua irrefletida.
Vejo os outros nos espelhos de uma espécie de feira, não vejo também meu reflexo.
E sigo andando perto sem ser notada, atada a uma esperança de uma promessa mal feita, que talvez eu tenha ouvido sem ser pronunciada, só porque era o que eu queria ouvir...
Mas uma coisa é certa, esses sonhos vão nos entregando a nós mesmos. Mostrando que coisas que achamos ter superado só estão escondidas em algum lugar esperando seu momento mais vulnerável para se libertar. Contudo, outra coisa, dessa vez boa, é que eles ligam o alerta. São como um sinal amarelo, indicando que na hora que você acordar, terá que parar e repensar tudo. Talvez o Modus Operanti não esteja dando certo.
A pior parte é não saber o que fazer, a subjetividade confunde e tudo pode ser outra coisa totalmente diferente do que você associa. Sonhos e seus significados misteriosos, o consciente que não te deixa em paz um segundo sequer enquanto está acordado e o subconsciente que assume o papel enquanto eu deveria estar descansando. Minha cabeça martela e martela sem parar. Mas aprendi a lidar com sonhos faz tempo. Posso não saber o que significam, mas não tento encontrar um jeito que aponte algo positivo para mim. Há tempos parei de enxergar sonhos como algo premonitório, agora vejo como só o cérebro te pregando uma peça, tentando dar um pingo de esperança para o que quer que seja. No final é só uma luta interna entre o que você quer, o que você deseja e o que você realmente tem/terá.